José Cezinaldo Rocha Bessa [1]
Falta amor no mundo. Mas também falta interpretação de texto. (Leonardo Sakamoto)
Este texto nasce de uma provocação, posta pela epígrafe reproduzida acima e por uma razão que mais adiante espero deixar claro. Por isso mesmo, a ideia é que ele se constitua também em uma provocação. Uma provocação a contrapalavras. Uma provocação a compreensões responsivas e reflexivas. Uma provocação a um debate que, nesse momento, apenas se insinua como um projeto de dizer inconcluso, cujo propósito é instigar, no embate de e entre ideias, uma compreensão mais profunda sobre um tema que me parece fundamental em um tempo em que a internet e, em particular redes sociais como Facebook, MySpace, Twiter, Instagram, WahtsApp, Linked, Sonico, Badoo, Google + , entre tantas outras [2], desempenha papel enorme e determinante na vida e nas relações de e entre pessoas em conexão em todo o mundo.
O tema que me move, nesta reflexão, é o ato de compreensão, que será problematizado no contexto do fenômeno recente da produção, circulação e recepção de textos no universo das redes sociais, as quais, pelo que se tem visto, caracterizam um “mundo novo” dominado pelas novas tecnologias e que vive sob a forte influência do que se tem denominado de geração Z [3] . Parto da convicção de que, para além da interpretação, tem faltado, em diversas interações que se dão no universo das redes sociais, sobretudo no Facebook, o que proponho denominar de compreensão responsável.
Quero, portanto, falar de compreensão de texto/enunciado/discurso como compreensão responsável [4]. À noção bakhtiniana de compreensão responsiva, corrente em diversos textos do Círculo de Bakhtin e de estudiosos do pensamento desse Círculo, eu proponho acrescentar o termo responsável, ainda que isso possa parecer ou ser redundante. Mesmo que da perspectiva bakhtiniana o ser responsivo seja ele também um sujeito responsável, eu proponho o termo compreensão responsável, para explicitar tanto a minha adesão à teoria do ato responsável formulada por Bakhtin [5] , como também para enfatizar a ideia corrente do termo responsável em nossa sociedade, retomada, aqui, conforme significações encontradas em dois dicionários online e reproduzidas logo a seguir:
Responsabilidade s.f. Obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros. / Caráter ou estado do que é responsável. [6].
responsabilidade sf. 1 Qualidade de responsável. 2 Dir Dever jurídico de responder pelos próprios atos e os de outrem, sempre que estes atos violem os direitos de terceiros, protegidos por lei, e de reparar os danos causados. 3 O dever de dar conta de alguma coisa que se fez ou mandou fazer, por ordem pública ou particular. 4 Imposição legal ou moral de reparar ou satisfazer qualquer dano ou perda. [7]
Tomando esses significados dicionarizados e o sentido filosófico do termo responsabilidade como proposto pelo pensamento bakhtiniano, quero pensar e propor um modo de apreensão do sujeito da compreensão no mundo contemporâneo, entendendo-o como sujeito responsável pelos discursos e sentidos que produz no espaço da internet, e em particular nas redes sociais. E ser responsável é, nos sentidos que lhes damos aqui, assumir e responder, ética e também juridicamente, por esses discursos e sentidos.
Do lugar único que ocupo na existência e do filtro axiológico que orienta o meu dizer, defendo a ideia de uma compreensão responsável, porque, cada vez mais, tenho me incomodado com determinadas contrapalavras expressas por internautas/sujeitos [8], sobretudo na rede social Facebook, a comentários e a postagens de vídeos, textos e mensagens, etc. Quero pensar que o direito inaliável de expressão que cabe a todo sujeito (e não só ao internauta) não lhe concede o direito de dizer e de querer impor ao seu outro qualquer compreensão, seja onde for, o que inclui o espaço das redes sociais. Esse agir do sujeito/internauta nas redes sociais parece refletir, a meu ver, um certo modus operandi de compreensão no espaço virtual, o qual estou propondo entender como cultura de fragmentação da compreensão [9] .
Quando falo de uma cultura de fragmentação da compreensão, estou considerando o modo como certos internautas/sujeitos se inscrevem nas cenas enunciativas do espaço virtual, em especial nas cenas engendradas na e pela rede social Facebook. Uso tal expressão para me referir, mais precisamente, ao modo como internautas/sujeitos se posicionam diante de determinados enunciados/discursos que são produzidos e que circulam nesse espaço.
Minha atenção se volta para problematizar como, ao postarem, partilharem e comentarem determinados textos (mensagens e vídeos no Facebook), esses internautas/sujeitos deixam de considerar os diálogos que esses enunciados/discursos travam com outros enunciados/discursos anteriores e subsequentes na cadeia da comunicação discursiva, bem como os contextos em que eles se inserem, sem considerar, ao que me parece, que certas postagens e comentários colocam em circulação modos de compreensão que, não raras vezes, colaboram com a produção e reprodução de discursos com orientações valorativas as mais diversas e perversas possíveis: de agressão verbal, de ofensa, de intriga, de preconceito, de intolerância de todo tipo (cor, sexo, religião, filiação partidária, gostos e preferências, etc.), entre outras.
Eu poderia não citar nenhum exemplo em particular acreditando que, ainda assim, o leitor deste texto não teria dificuldades de recuperar, a partir de suas próprias experiências de leitura de textos/enunciados que circulam e se produzem diariamente no Facebook, a que tipo de discurso eu estou me referindo, tendo em vista que os exemplos são muitos, já que eles surgem a cada fração de segundo, no ritmo desmedido, acelerado e sem controle do mundo da tecnologia da internet.
De todo modo, eu vou explorar um exemplo que, nos últimos dias, me chamou bastante atenção e que se oferece perfeitamente aos propósitos dessa reflexão. O exemplo está implicado no contexto da disputa eleitoral para presidente da república em curso no Brasil. Não é necessariamente um discurso político, mas envolve políticos e tem sido usado com fins políticos, para satisfação dos interesses de determinados grupos (políticos) [10]. Eis o exemplo:
Imagem disponível em: http://www.e-farsas.com/wp-content/uploads/marina_rindo_em_velorio.jpg Acesso em 20 ago. 2014
A cena que essa imagem (entendida como um enunciado, no caso um enunciado verbo-visual, como concebe Brait (2012)) representa poderia ser descrita como uma cena comum, como qualquer outra que cerca a situação de um velório: um caixão, com uma pessoa morta, em torno do qual se encontram várias pessoas, muito provavelmente parentes e amigos. Em uma situação dessas, o mais natural seria ver, no rosto das pessoas em volta do caixão, uma expressão de sofrimento, abatimento, desolação, tristeza, entre outros sentimentos, a menos que alguém estivesse interessado na morte do indivíduo que estava sendo velado. Só que a imagem não focaliza bem essas expressões. E foi justamente a forma como essas expressões foram compreendidas por alguns, fora de contexto e dos diálogos que se travam na e com a situação, que conduziram a todo tipo de estupidez e insensatez de muitos internautas/sujeitos, sob a forma de protestos e de indignação, como se ela (a cena) representasse uma certa satisfação da mulher que, debruçada sobre o caixão, ocupa o centro da cena.
Da imagem que inicialmente foi divulgada em notícias por jornais, internautas/sujeitos passaram a fazer circular (e também curtir, compartilhar, comentar) uma outra, com o sugestivo acréscimo dos dizeres, em destaque com letras na cor verde e com três pontos de exclamação: “Marina Silva dá risada em cima do caixão de Eduardo Campos!!!”, como ilustrado acima. Ao fazerem isso, muitos desses internautas/sujeitos parecem querer sugerir e compactuar com a ideia de que a “risada” da candidata à vice-presidente do PSB, Marina Silva, expressaria um sentimento de contentamento com a morte do então candidato à presidente daquele partido, Eduardo Campos, sob a alegação de que isso a colocaria na condição “confortável” de ser escolhida para substituir o falecido candidato na corrida presidencial.
Essa sintética contextualização não é para fazer análise do discurso, como já sugerido mais acima, mas para mostrar um exemplo concreto de uma situação em que o sujeito da compreensão tenta distorcer, manipular e fragmentar os sentidos, na busca desmedida por impor, (ir)responsavelmente, uma compreensão fragmentada e deturpada da cena, já que, como esclarecido, o riso de Marina, naquele contexto, tem outra motivação.
Este exemplo constitui uma pequena amostra do fenômeno da proliferação de discursos que colaboram para provocar e disseminar intrigas, ofensas, preconceito e intolerância, entre outros, que é, conforme estou entendendo, resultado da incapacidade ou da má vontade dos internautas/sujeitos (em alguns casos, até mesmo da falta de consciência) de considerar e recuperar os fios dialógicos e os contextos nos quais se inserem os discursos em relação aos quais emitem posicionamentos na rede. Para esses sujeitos/internautas, Bakhtin/Volochínov (2010, p. 133-134) deveria ter enviado a seguinte mensagem: “Se perdermos de vista os elementos da situação, estaremos tampouco aptos a compreender a enunciação como se perdêssemos suas palavras mais importantes.”.
Embora eu compartilhe da ideia, presente também na teoria bakhtiniana, de que os sentidos são múltiplos e que a interpretação pode ser sempre outra – uma construção singular do sujeito –, quero alertar para os perigos das interpretações incompletas, fragmentadas, descontextualizas (também recontextualizadas), generalizantes, quando não mal intencionadas e autoritárias, que vão na contramão do estabelecimento e manutenção de um diálogo franco, aberto e respeitoso com o outro, como concebe o pensamento dialógico do Círculo de Bakhtin.
O pensamento do Círculo, com o vigor e a atualidade surpreendentes que o caracterizam, oferece grandes contribuições a esse debate sob várias perspectivas com a formulação de sua concepção dialógica da linguagem. Uma dessas contribuições se apresenta sob a forma da teoria do enunciado concreto, que, fundada na noção de relações dialógicas, põe relevo na ideia de que um enunciado é sempre resposta a outros enunciados:
Os enunciados não são indiferentes entre si nem se bastam cada um a si mesmos; uns conhecem os outros e se refletem mutuamente uns nos outros. Esses reflexos mútuos lhes determinam o caráter. Cada enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera de comunicação discursiva. Cada enunciado deve ser visto antes de tudo como uma resposta aos enunciados precedentes de um determinado campo (aqui concebemos a palavra “resposta no sentido mais amplo): ele os rejeita, confirma, completa, baseia-se neles, subtende-os como conhecidos, de certo modo os leva em conta. (BAKHTIN, 2003, p. 297, grifos do autor).
Se na comunicação discursiva, em qualquer que seja a esfera da atividade humana, o sujeito está sempre recuperando o enunciado dito por outrem (seja confirmando-o, seja completando-o, seja dele discordando, etc.), é estranho que, em certos momentos, como ocorre em recorrentes postagens e comentários do Facebook, o internauta/sujeito não tome consciência do fato de que todo texto supõe uma rede de diálogos e que o sentido não se prende exclusivamente a um único texto, aquele que ele leu e sobre o qual expressou uma posição, ou seja, cortando o vínculo com a cadeia da comunicação discursiva e o inserindo em uma outra cadeia (ainda que isso seja um forma de diálogo possível) sem considerar, sobretudo, os elementos anteriores da situação.
Sem querer negar aqui a possibilidade de construção do sentido encerrada em um dado texto (porque é possível, sim, construir sentidos para um texto tomado isoladamente, mesmo que essa construção possa ser mais limitada), quero enfatizar, seguindo o pensamento do Círculo de Bakhtin, a possibilidade de enriquecimento da compreensão quando o leitor se dispõe a recuperar outros textos e outros contextos, como apontam essas duas passagens:
A questão dos limites do texto e do contexto. Cada palavra (cada signo) do texto leva para além dos seus limites. Toda interpretação é o correlacionamento do texto com outros textos. (BAKHTIN, 2003, p. 400)
A interpretação como correlacionamento com outros textos e reaparição em um novo contexto (no meu, no atual, no futuro) (BAKHTIN, 2003, p. 401, grifos do autor)
Com essas palavras do autor, eu quero deixar claro, antes de mais nada, que a questão sobre a qual me volto não deve ser entendida como resultado de um problema de leitura, de interpretação ou de compreensão por parte do internauta/sujeito. É óbvio que, por vezes, o internauta/sujeito expressa posições que distorcem, total ou parcialmente, o sentido daquilo que ele leu por uma dificuldade de interpretação, porque há casos em que o problema é mesmo de interpretação equivocadas, como adverte Possenti (2001). É natural, portanto, que, por vezes, ele não consiga apreender os sentidos possíveis de um determinado enunciado, tampouco aquele dado pelo autor do texto/enunciado, mesmo quando se considera que a “compreensão poderosa e profunda” pode ser ativa e criadora, no sentido de ser melhor que aquela construída pelo próprio autor de um determinado texto/enunciado, como argumenta Bakhtin (2003).
O problema que coloco aqui é quando o sujeito/internauta, intencionalmente, por ação deliberada, distorce os sentidos de um enunciado, orientando-os conforme seus interesses pessoais e particulares, sem o menor respeito e consideração do seu outro, seu interlocutor, com vistas ao estabelecimento de um diálogo que pode ser conflituoso, mas não impositivo, autoritário, sem concessão e sem abertura para a expressão da “verdade” do outro. De acordo com o pensamento bakhtiniano, isso se explica, embora não se justifique, quando se considera que todo dizer e toda compreensão do sujeito é sempre axiologicamente valorada, já que o sujeito da compreensão é, por natureza, um ser de ideologia e dela não pode ser concebido separadamente, como bem precisamente indica Freitas (2007, p.37):
[…] cada pessoa tem um determinado horizonte social orientador de sua compreensão, que lhe permite uma leitura dos acontecimentos e do outro, impregnada pelo lugar de onde fala. Deste lugar no qual se situa, é que dirige o seu olhar para a nova realidade. Olhar que se amplia na medida em que interage com o sujeito.
No meu modo de ver, o problema da compreensão se configura mais grave ainda, quando se percebe que o internauta/sujeito tenta passar a ideia de que o seu posicionamento, entendido como sua compreensão responsiva, é a expressão de uma verdade única e absoluta, quando é mais salutar pensar, por exemplo, que existem “várias verdades mutuamente contraditórias […]”, como bem expressa Médviédev (2012, p. 63), ou que “a verdade não nasce nem se encontra na cabeça de um único homem; ela nasce entre os homens, que juntos a procuram no processo de sua comunicação dialógica […]” (BAKHTIN, 2010b, p.125).
As citações reproduzidas acima dão bem uma ideia de que o caminho da compreensão pode ser outro: o da ampliação dos contextos, porque, afinal, o texto leva para além dos seus limites estreitos, configurando-se como interação de contextos, próximos e distantes, e de diálogos com outros sujeitos, fisicamente e virtualmente presentes. Dizer isso é um convite para se considerar, afinal, a construção da compreensão como um lugar de abertura para a escuta do outro, o que implica, muitas vezes, ter, até mesmo, que renunciar os pontos de vista e convicções próprias, considerando as possibilidades de alargamento da compreensão que resultam do encontro com os pensamentos alheios, como aponta Bakhtin (2003, p. 378):
[…] o sujeito da compreensão não pode excluir a possibilidade de mudança e até de renúncia aos seus pontos de vista e posições já prontos. No ato da compreensão desenvolve-se uma luta cujo resultado é a mudança mútua e o enriquecimento. […]
As compreensões fragmentadas, isoladas, fechadas no pensamento do eu, que se expressam com base na crença de que existe um dono, senhor absoluto da verdade, recorrentes nas interações do espaço virtual, têm se revelado, como tenho observado, uma fonte geradora de relações conflituosas, de intrigas, de desentendimentos de toda ordem e, sobretudo, de falta de respeito com o outro, sinalizando que se vive hoje sob o signo de uma “civilização digital” que é muito mais afeita ao dizer que a qualquer disposição para se colocar no lugar da escuta.
Isso é revelador do fato de que toda a complexidade que recobre as relações humanas no plano do “mundo real”, encontra, agora, no mundo das redes sociais, novo espaço e novas formas de se manifestar, que, não raras vezes, apontam para um distanciamento do verdadeiro sentido do existir humano, que é aquele fundado na relação de alteridade, como pensa Bakhtin (2003, p. 341): “o próprio ser do homem (tanto interno quanto externo) é o convívio mais profundo. Ser significa conviver.”
Fica, portanto, o desafio de o sujeito/internauta, ao invés de assumir as compreensões que se fecham para o outro e que se distanciam da relação de alteridade constitutiva do ser, que refletem e refratam uma cultura da fragmentação da compreensão, colocar-se mais na condição de escuta e compreender, de forma engajada, comprometida e respeitosa com o outro como expressão de uma compreensão responsiva e responsável. Fica, por fim, o desafio de esse sujeito/internauta, do lugar único que ele ocupa na existência, assumir o compromisso de se posicionar mais amorosamente nas diversas interações que estabelece no espaço das redes sociais, sabendo respeitar o lugar imprescindível do outro no mundo da vida, como condição para a existência de uma sociedade mais humana e mais tolerante às diferenças e ao convívio com o pluralismo de ideias que favorece o diálogo produtivo e, por conseguinte, o entendimento nas interações humanas.
[1] Doutorando pelo programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), FCLar. Professor Assistente IV da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Campus de Pau dos Ferros, RN. Membro do Grupo de Pesquisa em Produção e Ensino do Texto (GPET) e do SLOVO – Grupo de Estudos do Discurso. Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). E-mail: cezinaldobessa@uern.br
[2] Para se ter uma ideia, uma matéria da revista Época, assinada por Danilo Venticinque e Júlia Korte, menciona a existência de, pelo menos, 50 redes sociais disponíveis no mundo,fora aquelas que se desconhece. Certamente, este número já é bem maior hoje, já que muitas outras devem ter surgido desde quando a matéria foi publicada, em 14 de março de 2014. O texto está disponível no seguinte endereço: http://epoca.globo.com/vida/noticia/2014/03/bcansou-do-facebookb-50-outras-redes-sociais-que-estao-bombando.html. Acesso em 21 ago. 2014.
[2] De acordo com Kämpf (2011), a expressão geração Z refere-se aos “nativos digitais”, ou seja, a nova geração que, nascida a partir de meados dos anos 90, surge envolvida diretamente com as novas ferramentas digitais, como mídias sociais.
[3] Embora reconhecendo as especificidades que as noções de texto, enunciado e discurso assumem em diferentes lugares teóricos, estou usando-os de forma interligada, sem estabelecer qualquer distinção, tendo em conta o vínculo indissociável que se estabelece entre eles no conjunto das reflexões do Círculo.
[4] De acordo com essa teoria, presente mais fortemente no livro Para uma filosofia do ato responsável assinado por Bakhtin (2010a), o sujeito ocupa um lugar único na existência, um lugar que nenhum outro ser pode ocupar, o que o faz ser um sujeito sem álibe na existência, de modo que somente ele pode responder pelos seus atos. Desse ponto de vista, esse sujeito é, ao mesmo tempo, um ser responsivo e responsável.
[5] Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com/Responsabilidade.html>. Acesso em 18 ago. 2014.
[6] Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=responsabilidade>. Acesso em 18 ago. 2014.
[7] Como esse sujeito da compreensão das redes sociais é o internauta, passo a usar, daqui em diante, os termos juntos, separados apenas por uma barra.
[8] O termo fragmentação pode não ser ainda o mais adequado e preciso para expressar a ideia que defendo no texto, mas é o que melhor me ocorre nesse momento. Estou compreendendo que o internauta/sujeito deixa de construir uma compreensão de maneira responsável porque fragmenta – ação da compreensão, ou seja, ele separa, desmembra o enunciado, isolando-o do seu contexto e dos outros textos da cadeia da comunicação discursiva.
[9] Uma evidência disso vem da notícia veiculada no jornal online Brasil 247, cuja manchete “Cenas de um velório: Lula chora, Marina sorri”, e mais duas fotos, logo abaixo da manchete, confrontando a expressão do sentimento de Lula e de Marina no velório de Eduardo Campos, dão bem uma ideia da manobra da informação com fins políticos. O texto está disponível em: http://www.brasil247.com/pt/247/pernambuco247/150408/Cenas-de-um-vel%C3%B3rio-Lula-chora-Marina-sorri.htm. Acesso em 22 ago. 2014.
[10] Para ampliar o leque de compreensão da contextualização da cena que a imagem descreve, indico a leitura do texto de Kiko Nogueira, intitulado “O riso de Marina no velório de Eduardo Campos”, disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/08/o-riso-de-marina-velorio-de-eduardo-campos.html. Acesso em 20 ago. 2014. Indico também o texto “Marina Silva deu risada em cima do caixão de Eduardo Campos?”, disponível em http://www.e-farsas.com/marina-silva-deu-risada-em-cima-caixao-de-eduardo-campos.html. Acesso em 21 ago. 2014.
Referências
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução do russo de Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
______. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução aos cuidados de Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010a.
______. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução do russo de Paulo Bezerra. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010b.
BAKHTIN, M. (VOLOCHÍNOV). Marxismo e Filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 13. ed. São Paulo: Hucitec, 2009. BRAIT, B. Construção coletiva da perspectiva dialógica: história e alcance teórico-metodológico. In: FIGARO, R. (Org.). Comunicação e Análise do Discurso. São Paulo: Contexto, 2012, p. 79-98.
FREITAS, M. T. A perspectiva sócio-histórica: uma visão humana na construção do conhecimento. In: FREITAS, M. T.; SOUZA, S. J.; KRAMER, S. Ciências humanas e pesquisa: leituras de Mikhail Bakhtin. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2007, p. 26-38.
KÄMPF. C. A geração Z e o papel das tecnologias digitais na construção do pensamento – (Reportagem). ComCiência, n. 131, Campinas 2011. Disponível em: http://comciencia.scielo.br/pdf/cci/n131/a04n131.pdf. Acesso em 21 ago. 2014.
MEDVIÉDEV, P. N. O método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma poética sociológica. Tradução de Ekaterina Vólkova Américo e Sheila Camargo Grillo. São Paulo: Contexto, 2012.
POSSENTI, S. Existe a leitura errada? – Entrevista. Presença pedagógica, v. 7 n. 40, p. 5-18, jul./ago. 2001.
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