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OS TRÊS IRMÃOS POTTERIANOS: UM OLHAR BAKHTINIANO ACERCA DA CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DE PERSONAGENS DE HA

Ana Beatriz Maia Barissa


Era uma vez três irmãos…

Em O conto dos três irmãos, J. K. Rowling aborda sobre uma antiga crença dentro do mundo bruxo acerca das relíquias da Morte, constituídas da Varinha das Varinhas, a Pedra da Ressurreição e a Capa da Invisibilidade. No conto, um objeto foi dado a cada um dos três irmãos em uma ponte, território da Morte e por onde tentaram atravessar. Tal como acontece com as narrativas populares, o conto traz em si não apenas o modelo tradicional dos contos de fadas, mas também uma moralidade, no que concerne condutas há muito exploradas, tais como humildade e legado e penitência para a ganância e soberba dos seres humanos.

Seguindo os pressupostos bakhtinianos de linguagem como as personagens desse conto pertencente à literatura bruxa, ajudam a compreender a constituição dos sujeitos Harry Potter, Voldemort e Severus Snape. A proposta de análise fará suas devidas ressalvas quanto à constituição das personagens como sujeitos que, tal como a concepção dialógica proposta pelo Círculo de Bakhtin, Medviedév e Voloshinov, ambos possuem discursos com vozes outras e dados por relações dialógicas, sejam elas dissonantes ou consonantes.

Severus Snape, Voldemort e Harry Potter se tornam uma tríade bastante importante para a composição da saga, tal como os irmãos Peverell. Por sua vez, ambos os trios acabam por constituir uns aos outros como sujeitos, também constituídos pelas vozes presentes nos discursos tanto do próprio conto (narrativa popular de caráter moralista, remetente a toda uma carga ideológica que regem a sociedade e é regido por ela), quanto da saga potteriana.

Dessa forma, nossa proposta se volta a um viés tanto teórico, quanto analítico, com conceitos norteadores do nosso trabalho, tais como: enunciado, diálogo e sujeito. Não nos restringiremos à materialidade linguística, uma vez que pretendemos compreender como o conto se relaciona ao meio social no qual está inserido (o mundo bruxo). Partiremos do linguístico (materialidade verbal) rumo ao translinguístico (cultura e sociedade), tal como é trabalhado pelo Círculo.

  1. Beedle, o bardo e os contos: A importância da narrativa popular do /no mundo bruxo potteriano


Tzvetan Todorov, em uma divisão didática explana acerca da aparição do sobrenatural nas narrativas e como este é percebido pelas personagens do enredo e, por conseguinte, pelo leitor. O Maravilhoso se configura como uma categoria cujo caráter sobrenatural e as criaturas dessa natureza (fadas, duendes, animais falantes) têm a transgressão das leis da física e da natureza nas obras e isso decorre como algo aceito pelo leitor desde o início da leitura. Dentro do maravilhoso é possível encontrar os contos de fadas, as ficções científicas e a literatura de horror. Segundo Todorov, os contos possuem essa diferença em relação ao sobrenatural não por conta da temática, mas o modo pelo qual a narrativa é estruturada, pensada de modo a fazer o leitor se sentir no mesmo plano dos acontecimentos da narrativa e não estranhar ou se assustar com o sobrenatural.

Desse modo, os contos de fadas são narrativas de origem popular, cujo legado é carregado por meio da tradição oral e transmitido de geração em geração. Logo após tiveram suas (diversas) versões escritas para, enfim, serem difundidas e transformadas em “um fruto e um bem da coletividade” (VOLOBUEF, 1993, p.100). Por todo o solo (não somente) europeu teremos precursores dessas histórias, com um estudo mais estruturalista iniciado na Rússia por Vladmir Propp sobre os contos de fadas, a fim de se encontrar as similaridades decorrentes dessas narrativas, tais como:

  1. Situação introdutória;

  2. Surgimento de um problema (doença, pobreza da família, perda ocasionada pela desobediência a alguma proibição, maldades infligidas pelo malfeitor, tais como rapto, abandono etc.);

  3. Procura por solução: protagonista ou “herói” sai em viagem com o propósito de cumprir tarefa que lhe foi imposta (resgatar a princesa, buscar a água da vida para o rei moribundo, achar um objeto encantado);

  4. Submissão a uma prova: o herói tem que mostrar sua humildade, força, inteligência, coragem, astúcia etc.;

  5. Êxito na prova: em consequência de sua boa conduta ou qualidades, o herói conquista a ajuda de um benfeitor (fada madrinha, animal falante) ou adquire um objeto mágico (bolsa sempre cheia de moedas de ouro, chapéu que o torna invisível);

  6. Superação da dificuldade imposta pelo malfeitor (que raptou a princesa ou mantém guardada a água da vida): com o auxílio mágico recebido, o herói realiza a sua tarefa;

  7. Punição do malfeitor (bruxa, dragão, lobo mau são mortos);

  8. Final ditoso: protagonista casa-se com a princesa e/ou enriquece. (VOLOBUEF, 1993, p.101)


Outra característica dos contos de fadas acerca do herói é o fato de que todas as personagens que aparecem estarão conectadas diretamente com ele. Seja o ajudante do herói, o inimigo, pessoa salva pelo herói e também as personagens figurantes, como irmãos, por exemplo. Mais um destaque a ser considerado sobre as narrativas maravilhosas é o extremo com que emoções, personalidades, defeitos e qualidades aparecem nas histórias: só há o bom e o mau, o belo e o feio, o amor e o ódio. Não há espaço para o meio termo.

Esses moldes mais fechados e universalistas é o que garantirão o propósito do conto e também sua sobrevivência ao longo dos séculos. É necessário ter em mente de que estas narrativas se eternizaram também por conta da função moralista a que sempre foi atribuída. O ensinamento por meio da contação de história é um feito desde os primórdios a fim de orientar crianças, principalmente, sobre condutas e ritos importantes da/na natureza, como nascimento, morte, crescimento e maturação sexual. Entretanto, abordar também sobre o bem e o mal, ensinar sobre a humildade penitência ao que é considerado como correto também sempre foram funções primordiais dos contos maravilhosos e que aparece claramente durante a saga:

[…]

– Que acha? – Perguntou a Hermione;

– Ah, Harry – Disse, preocupada –, isso é um monte de besteiras. Não pode ser realmente o significado do símbolo [das Relíquias da Morte] Deve ser a versão excêntrica dele. Que perda de tempo.

– Suponho que esse seja o homem que descobriu os Bufadores de Chifre Enrugado – comentou Rony.

– Você também não acredita nele? – Perguntou Harry ao amigo.

– Bah, essa história é uma dessas coisas que se conta às crianças para ensinar lições de vida, não é? Não saia procurando encrenca, não compre brigas, não mexa com coisas que é melhor deixar em paz? Mantenha a cabeça abaixada, cuide de sua vida e você viverá bem. Pensando bem – acrescentou Rony –, talvez essa história seja para explicar porque varinhas de sabugueiro dão azar.

Do que está falando?

– É uma dessas superstições, não? “Bruxa nascida em maio com trouxa irá casar”. “Feitiço ao anoitecer desfaz ao amanhecer.” “Varinha de sabugueiro, azar o ano inteiro.” Você já deve ter ouvido. Minha mãe sabe uma porção.

– Harry e eu fomos criados por trouxas – lembrou-lhe Hermione –, aprendemos outras superstições. – […] – Acho que tem razão – disse-lhe – É só um conto moral […]. (ROWLING, 2007, p.231)

No que concerne Os contos de Beedle, o bardo, ele não fugirá desse modelo tradicional. Especificamente, n’O conto dos três irmãos, temos como situação introdutória três irmãos portadores de magia, que conseguiram ultrapassar um rio perigoso de travessia e onde a própria Morte fazia várias vítimas. A problemática é ocasionada por personagens perdidos, mas pela própria Morte que ilude os irmãos ao fazê-los acreditar estar impressionada com as habilidades mágicas dos irmãos e a procura por solução toma forma dos pedidos de presentes feitos pelas três personagens e que foram oferecidos pela própria Morte:

Então, o irmão mais velho, que era um homem combativo, pediu a varinha mais poderosa que existisse: uma varinha que sempre vencesse os duelos para seu dono, uma varinha digna de um bruxo que derrotara a Morte! Ela atravessou a ponte e se dirigiu a um vetusto sabugueiro na margem do rio, fabricou uma varinha de um galho da árvore e entregou-a ao irmão mais velho. Então, o segundo irmão, que era um homem arrogante, resolveu humilhar ainda mais a Morte e pediu o poder de restituir a vida aos que ela levara. Então a Morte apanhou uma pedra da margem do rio e entregou-a ao segundo irmão, dizendo-lhe que a pedra tinha o poder de ressuscitar os mortos. Então, a Morte perguntou ao terceiro e mais moço dos irmãos o que queria. O mais moço era o mais humilde e também o mais sábio dos irmãos, e não confiou na Morte. Pediu, então, algo que lhe permitisse sair daquele lugar sem ser seguido por ela. E a Morte, de má vontade, lhe entregou a própria Capa da Invisibilidade. (ROWLING, 2007, p.228).


Ao escolher a Capa da Invisibilidade, o irmão mais novo prova sua humildade (ou seja, sua boa conduta) em não querer humilhar a Morte, como o fez os outros dois irmãos, o que o recompensou com permanência da Capa e a tornou um legado para o filho, diferente dos outros, que tiveram as relíquias perdidas, além da morte precoce.

A partir disso, é preciso se atentar aos objetos considerados as Relíquias da Morte. No caso da Varinha das Varinhas, ela se concretiza como o a própria mágica. A mitologia celta é bastante presente na obra de Rowling e, para essa cultura, segundo o Dicionário de símbolos, a varinha é um instrumento de magia por excelência, por simbolizar o poder mágico do druida sobre os elementos.

No caso da Pedra da Ressurreição, a pedra tem uma conexão estreita com a alma e, dessa forma, é possível compreender sua ligação com a (vida) pós-morte. No que concerne seu valor místico, a pedra e o homem representam o movimento duplo de subida e descida. Conforme explica Chevalier

O homem nasce de Deus e a Ele retorna. A pedra bruta descende do céu, transmuta-se e se eleva a ele. O templo deve ser construído com pedra bruta e não talhada. […] A pedra talhada, em efeito, nada mais é do que obra humana; profana a obra de Deus, simboliza a ação humana que substitui a energia da Criação. A pedra bruta é também símbolo da liberdade, a pedra talhada, de servidão e trevas. (CHEVALIER, GHEERBRANT, 1986, 828, tradução livre)[1]


No que concerne a Capa da Invisibilidade, se faz necessário ressaltar, uma vez mais, a importância da mitologia celta para a construção da saga. No imaginário celta, Mananan Mac Lir era um feiticeiro cruel possuidor de artefatos mágicos, inclusive um manto da invisibilidade, que assumia qualquer cor desejada. Mesmo na crença católica, o manto é uma imagem (pedida em oração) que aparece para simbolizar a proteção e a invisibilidade de tudo aquilo considerado negativo.

Compreendidas a importância da narrativa popular (também aplicada dentro do mundo bruxo) e sua moralidade e as significações dos objetos denominados Relíquias da Morte, estabeleceremos no próximo item do artigo, a construção das personagens, Voldemort, Severus Snape e Harry Potter na saga e de como essa tríade, que refletem e refratam ideologias de uma comunidade (não somente) bruxa materializada na e pela linguagem, arena de combate ideológico por excelência entre sujeitos – neste caso, os três irmãos e Harry Potter/ Voldemort/ Severus Snape – repletos de valores, concretizados em discurso e na qual o próprio meio ideológico de manifesta.

2. Os três irmãos: A construção de Voldemort, Severo Snape e Harry Potter no/por meio do conto de Beedle, o bardo


Na saga Harry Potter, Voldemort é um bruxo das trevas poderoso, cujo único objetivo é construir uma sociedade bruxa livre das “impurezas” da população não mágica: isto é, sem que haja envolvimento entre bruxos e não mágicos. Uma de suas ambições é conseguir poder e, para tanto, procura pela Varinha das Varinhas. No espaço-tempo da saga, a Varinha se encontra em posse de Albus Dumbledore, diretor da escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Durante o último livro da saga, é mostrado o empenho de Voldemort em conseguir a varinha, tal como é descrito no conto de Beedle, o bardo. Por ser um homem combativo e violento, o irmão mais velho pede uma varinha com a qual possa vencer qualquer batalha. No caso de Voldemort, é por meio de um sistema ditatorial que pretende fazer uma (em sua concepção) limpeza sócio-racial de toda uma comunidade.

Bakhtin faz a proposta de uma filosofia da linguagem baseada na interação, ou seja, no diálogo, que ocorre entre enunciados, entre sujeitos e entre enunciados e sujeitos. Dessa forma, compreende-se o enunciado como concreto e dialógico, social e transmissor de valores dos sujeitos que o enunciaram, inseridos em um determinado espaço-tempo.

Voldemort é um vilão que vive para e pelo poder acima de qualquer moralidade. Desobedece a ideia base de que é na varinha que recai a escolha de bruxo usuário. Ao conseguir a Varinha das Varinhas, seu feito é conseguido a partir do assassínio. Tal como o Primeiro Irmão, cuja única intenção era a de humilhar a Morte (desafiá-la) e provar sua posição como a de bruxo mais poderoso. A construção de uma personagem referente ao Irmão mais Velho no contexto de produção da saga potteriana tão semelhante aos princípios de Voldemort nos conduz a fazer um diálogo imediato entre ambos os sujeitos, que materializam seus valores em seus discursos. Essa conexão decorre devido à consciência ideológica em torno de um determinado objeto de enunciação, tal qual explana Souza sobre o enunciado que

[…] existente, surgido de maneira significativa num determinado momento social e histórico, não pode deixar de tocar os milhares fios, tecidos pela consciência ideológica em torno de um dado objeto enunciação, não pode deixar de ser um participante ativo do diálogo social. Ele também surge desse diálogo como seu prolongamento, como sua réplica, e não sabe de que lado ele se aproxima desse objeto. (BAKHTIN apud SOUZA, 2002, p.83, grifos do autor)

Do mesmo modo ocorre com a personagem Severus Snape e o Segundo Irmão. O Mestre de Poções se tornou um ícone dentro da saga devido à construção dupla desse sujeito e que confere à sua personagem o exemplo máximo da ambivalência humana. Outro ponto que o destaca dentro da saga é a base que o faz trabalhar como espião duplo para os dois maiores bruxos da época: Lily Evans, mãe d eHarry Potter. Nasce daí a construção da personagem Snape refletida e refratada n’O conto dos três irmãos por meio da imagem do Segundo Irmão:

Entrementes, o segundo irmão viajou para a própria casa, onde vivia sozinho. Ali, tomou a pedra que tinha o poder de ressuscitar os mortos e virou-a três vezes na mão. Para sua surpresa e alegria, a figura de uma moça que tivera esperança de desposar antes de sua morte precoce surgiu instantaneamente diante dele. Contudo, ela estava triste e fria, como que separada dele por um véu. Embora tivesse retornado ao mundo dos mortais, seu lugar não era ali, e ela sofria. Diante disso, o segundo irmão, enlouquecido pelo desesperado desejo, matou-se para poder verdadeiramente se unir a ela. Então, a Morte levou o segundo irmão. (ROWLING, 2007, p. 228).



A imagem de Snape se configura por meio da/ na imagem do Segundo Irmão, do mesmo jeito que o este é construído por/em Snape também. O diálogo social se faz presente e os entrelaces ideológicos se constroem nessas duas personagens. A pedra do Segundo Irmão, conectora do plano terrestre e o plano místico, não transpassa as leis de vida e morte e traz à vida uma mulher de espírito desfalecido. O sacrifício (da vida) é feito a fim de que haja a união no post mortem. Severus Snape também se condicionou a uma vida por uma causa maior por amor (a uma mulher) e que transpassou qualquer valor ético, moral e conduta.

No caso de Harry Potter, sua personagem se configura na/por meio da imagem do Terceiro Irmão e cuja Capa da Invisibilidade foi o que o (en)cobriu da Morte até se entregar a ela no devido tempo, tal qual fez o mais novo dos irmãos:

– Pensei que ele viria – comentou Voldemort em sua voz clara e aguda, seus olhos postos

nas línguas de fogo. – Esperava que viesse.

Ninguém falou. Todos pareciam tão apavorados quanto Harry, cujo coração agora saltava contra as costelas como se tivesse decidido escapar do corpo que estava prestes a descartar. Suas mãos estavam suadas, e ele despiu a Capa da Invisibilidade e guardou-a, com a varinha, dentro das vestes. Não queria se sentir tentado a lutar.

– Aparentemente… me enganei – disse Voldemort.

– Não se enganou.

Harry falou o mais alto que pôde, com toda a força que conseguiu reunir: não queria parecer

amedrontado.

[…]

Voldemort erguera a varinha. Sua cabeça ainda estava inclinada para um lado, como a de uma criança curiosa, imaginando o que aconteceria se ele prosseguisse. Harry encarou os olhos vermelhos e desejou que acontecesse naquele instante, rapidamente, enquanto ele ainda se mantinha de pé, antes que se descontrolasse, antes que traísse o seu medo… Ele viu a boca se mover e um clarão verde, e tudo desapareceu. (ROWLING, 2007, p.385-386).

Embora a Morte procurasse o terceiro irmão durante muitos anos, jamais conseguiu encontrá-lo. Somente quando atingiu uma idade avançada foi que o irmão mais moço despiu a Capa da Invisibilidade e deu-a de presente ao filho. Acolheu, então, a Morte como uma velha amiga e acompanhou-a de bom grado, e, iguais, partiram desta vida. (ROWLING, 2007, p.228).

Harry Potter, tal qual acontece com o Terceiro Irmão, torna-se ciente de que não pode (e nem deve) transgredir as leis naturais e desafiar a Morte e foi por isso (e pela Pedra da Ressurreição) que conseguiu ser atingido novamente pela maldição da morte e ainda assim não morrer. Em ambos os discursos (de Harry Potter e do Terceiro Irmão), é possível contemplar a valoração axiológica no que concerne a ideia de Vida versus Morte, diferenciada das de Voldemort (cuja ideia de Morte era inaplicável a si mesmo) e de Snape (que tinha a Morte como redenção ao seu passado) e também do Primeiro e Segundo Irmãos. Harry Potter e o Terceiro Irmão são materialização da aceitação da ordem natural da vida e que não existe a possibilidade da transgressão dessas leis.

Algumas considerações…


Na história, buscamos contemplar a relação entre os irmãos e a Morte, ao passo de como é construída esta relação na saga potteriana entre Harry Potter, Severus Snape e Voldemort e a Morte. Em cada construção genérica enunciativa, discursos são inseridos em sua construção arquitetônica. Ambos discursos (Tríade potteriana e Três Irmãos) são plenos de valores sociais, já que se constituem por vozes de sujeitos inseridos em determinado espaço tempo.

Desse modo, é possível compreender a importância do sujeito para a construção desses enunciados. O sujeito é parte fundamental no ato de enunciar. Por ser colocado sob um posicionamento responsivo e responsável, o enunciado responde a outros enunciados, carregados de vozes sociais. Essas vozes trarão em si posicionamentos variados de sujeitos situados em espaços-tempos diferentes, o que nos faz voltar no postulado bakhtiniano da linguagem como dialógica. Essa condição está fundamentada na interação entre sujeitos responsivos, cuja natureza é de uso social e interacional por meio de enunciados.

Referência Bibliográfica

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: HUCITEC, 1997

BETELLHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2014.

CHEVALIER, J.; GHEERBRANT, A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Rio de Janeiro: José Olympio, 2015.

ROWLING, J. K. Os contos de Beedle, o bardo. Trad. Lia Wyler. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.

ROWLING, J. K. Harry Potter e as relíquias da morte. Trad. Lia Wyler, Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

PROPP, Vladimir. Morfologia do conto maravilhoso. CopyMarket, 2001

SOUZA, Geraldo Tadeu. Introdução à teoria do enunciado concreto: círculo de Bakhtin/Volochinov/Medvedev – 2 ed. – São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2002.

VOLOBUEF, Karin; ALVAREZ, Roxana Guadalupe Herrera (Org.); WIMMER, Norma (Org.) Dimensões do fantástico, mítico e maravilhoso. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011.

VOLOCHINOV, V. A Construção da enunciação e outros ensaios. São Carlos: Pedro e João, 2013.

[1] El hombre nace de Dios y retorna a Dios. La piedra bruta desciende Del cielo; transmudada, se eleva hacia él. El templo debe construirse com piedra bruta, no com piedra tallada. […] La piedra labrada no es em efecto más que obra humana; profana La obra de Dios, simboliza La acción humana que substituye a la energia creadora. La piedra bruta es también símbolo de libertad, la piedra tallada de servidumbre y de tinieblas.

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