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Cronotopo por Bakhtin e Bauman: iniciando o diálogo

Profa. Dra. Rosineide de Melo Centro Universitário Fundação Santo André Il Sole Escola de Ensino Fundamental Membro do GED

Nossas reflexões estão em construção e compartilhá-las inacabadas têm a finalidade de convidar os pesquisadores do GED para esse diálogo.

Em tempos de modernidade líquida (Bauman, 2001), parece-nos oportuno refletir acerca do cronotopo.

Revisitando as discussões de Bakhtin e seu Círculo (1998 [1975]; 1997; 2003[1979]) e estudando as ideias de   Bauman (2001), percebemos na cronotopia uma convergência do diálogo desses teóricos.

A metáfora empregada por Bauman (2001) ao caracterizar a modernidade – líquida –  é precisa e adjetiva bem a contemporaneidade.

A discussão acerca de tempo-espaço parte dos aspectos histórico, político e ideológico: espaços representando poderes (sociais, econômicos), marcando tempos históricos; da ocupação dos espaços ao longo da história; criação de instrumentos que diminuíram o tempo de conquista de espaços, dentre outras profícuas reflexões, todas, no entanto, apresentando associação de significações e sentidos do tempo-espaço.

Após a contextualização epistemológica e não menos ideológica, política, social, cultural, o autor aborda a relação tradicional de tempo-espaço – duração para percorrer um espaço físico – em comparação ao tempo no espaço da virtualidade: “ o espaço é atravessado em tempo nenhum” (p.136), dessa forma, a corrida espacial, onde o tempo é fator crucial – reduzir o tempo de percurso por meio de transportes mais rápidos capacita a conquista de mais territórios/espaços – se relativa ou inexiste: os espaços são conquistados instantaneamente e daí, pode-se estar em qualquer lugar a qualquer tempo.

Diante disso, o lugar/espaço físico/conquista territorial tem suas significações alteradas, ou seja, para conhecer vários lugares, (ou invadi-los) não precisamos viajar, comprar passagens, hospedarmos, gastarmos…. as relações (pessoais, de trabalho, de dominação, do capital, políticas internas ou externas) também se modificam significativamente e são construídos novos e outros sentidos. A noção de duração desloca-se aos artefatos: são criados para não existirem – obsolescência programada. Tudo é consumível, descartável, efêmero, fugaz, breve, instantâneo: dos objetos às relações.

Deslocando (e nem tanto) essas reflexões, na modernidade líquida, mediada pelas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação – TDICs -, o espaço se relativiza e o tempo é o instantâneo. A virtualidade nos permite estar em qualquer lugar e no mesmo tempo real; como já mencionado, não precisamos nos deslocar em dado tempo para visitar, por exemplo, um museu ou para conversarmos com alguém em outro lugar do mundo. Isso proporcionado pelos artefatos conectados à internet, dispositivos e aplicativos móveis; facilitado pelas redes sociais, pelos programas de comunicação por voz e imagens, pelos aplicativos de mensagens, pelos sites e tudo o mais.

Evidentemente, que isso não significa negar tempos e espaços reais, na verdade, as noções – e o uso – de tempos e espaços que se alteraram.

Ao encontro dessa nova – ressignificada concepção, invocamos Bakhtin e seu Círculo ([1975] 1998; [1979] 1997; 2003). A ideia de tempo-espaço, ou seja, cronotopia pelos teóricos russos é estuda na perspectiva da literatura. O círculo emprega metáforas da estrada, da praça pública, da Ágora grega ou dos bulevares parisienses como as grandes arenas do discurso, organizadoras do homem histórico, implicado de tempo-espaço.

Temos discutido (Tanzi e Melo, 2016, em elaboração; Melo e Azzari, 2016, no prelo) o cronotopo da/na modernidade líquida. Melhor, no plural: cronotopos.

Adiantando e brevemente algumas de nossas reflexões, podemos falar em cronotopo da  virtualidade, para nos referirmos àqueles mediados pelas TDICs, e os da não virtualidade, como os da praça pública, recorrentes ao longo da História e muito presentes na atual realidade brasileira.

O cronotopo da “virtualidade” (Tanzi, Melo, 2016, em elaboração) – para citar apenas um – é marcado pela quase instantaneidade – considerando os delays –, também, obviamente pelo uso do dispositivo, pela interatividade. Trata-se do cronotopo fluído, uma vez que a relação tempo-espaço se fundem de uma forma ressigniticada, ou seja, não mais dependente da duração do percurso, mas da ubiquidade desses tempos/espaços.

As interações são alteradas nesse cronotopo, marcada pela colaboratividade e, evidentemente, circulam nele discursos constituídos por linguagens multimodais e multissemióticas e híbridas facilitadas pelas TDICs.

E ainda se considerarmos que “o conceito de Cronotopo trata de uma produção da história. Designa um lugar coletivo, uma espécie de matriz espaço-temporal de onde várias histórias se contam ou se escrevem” (Amorim, [2006] 2012, p. 105) como deixar de pensar nas redes sociais?! Como deixar de pensar nas histórias e Histórias publicadas online pelos usuários das/nas diversas redes?! Como deixar de pensar no cronotopo, por exemplo, pelo design do Facebook: linearidade e instantaneidade?!

Parece mesmo que Bakhtin e seu Círculo previram tempos modernos e líquidos…

Referências

AMORIM, M. Cronotopo e exotopia. In: BRAIT, Beth (Org.) Bakhtin: Outros Conceitos-chave. São Paulo: contexto, 2012, p. 95 -114.

BAKHTIN, M. M. Questões de literatura e de estética. A teoria do romance. Trad. Aurora Fornoni et al 4 ed. São Paulo: UNESP, 1998 [1975].

______. Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina G. G. Pereira. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997 [1979].

______. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003 [1979].

BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Trad. Plinio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2001. Disponível em:

MELO, Rosineide de. AZZARI, Eliane Fernandes Olhares sobre as construções do português em redes sociais e suas interfaces com a educação crítica e pluralista. 2016, no prelo.

TANZI NETO, Adolfo. MELO, Rosineide de. Cronotopo, remediação e os gêneros digitas no ambiente virtual de aprendizagem, em elaboração.

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