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As relações de alteridade em tempos de pandemia: breves reflexões

Tatiele Silva

Nos últimos meses, o país e o mundo têm enfrentado tempos difíceis em decorrência da pandemia de COVID-19. As relações entre os sujeitos e as dinâmicas de encontros passaram por transformações mediante esse cenário. O sujeito se dá na relação com o outro conforme a teoria bakhtiniana e as relações de alteridade são moldadas pelas vivências sociais. Nesse sentido, a comunicação cotidiana presente nas vivências dos sujeitos influencia as relações e como elas ocorrem. No contexto de pandemia, as interações físicas foram substituídas pela interação mediada por redes sociais, telas e encontros virtuais com o objetivo de evitar o contato físico e diminuir a disseminação da doença.

Os sujeitos se adaptaram e passaram a vivenciar a vida de uma outra forma com o intuito de manter as relações, os vínculos afetivos e se comunicar com o outro. A comunicação entre os sujeitos é essencial para a alteridade, principalmente, tendo em vista que a solidão física e o isolamento social trouxeram aos sujeitos a urgência de compreender como as dinâmicas da vida cotidiana são essenciais, desde as celebrações festivas (festas, aniversários e datas comemorativas) até as ações mais simples, como passear pela cidade.

A simplicidade da vida cotidiana, o encontro físico dos sujeitos e os seus rituais passaram a ter um sentido diferente quando o sujeito é privado de exercer essas vivências em função de uma doença contagiosa. Os gestos de afeição (abraço, aperto de mão e beijo) adquiriram um sentido ambíguo, ao mesmo tempo que o gesto implica a afeição também retoma o medo do contágio pelo toque. Os gestos físicos e os toques, ações que fazem parte das vivências humanas, foram transformados e ressignificados nesse contexto.

O cenário da pandemia, caracterizado por muitas incertezas, faz com que a “resiliência”, a “resistência” e a “sobrevivência” sejam palavras essenciais e mobilizadoras das relações de alteridade na sociedade. Essas palavras têm uma valoração importante no contexto de crise social e são parte dos enunciados e das relações de alteridade. A “resiliência”, a “resistência” e a “sobrevivência” fazem parte do gesto, do olhar, do comentário, da conversa e do áudio do WhatsApp. Elas têm a valoração de elemento que move o sujeito, a continuidade das relações de alteridade e a própria vida, como força impulsionadora.

Cada sujeito é peculiar e único, composto pela sua vida cotidiana e pelas relações estabelecidas com o outro. Desse ponto de vista, a vida de cada sujeito é insubstituível. As relações alteridade mantém o sujeito vivo como voz ressoante nos enunciados e em outros sujeitos como continuidade de ser resiliência, resistência e sobrevivência na busca pelo respeito à vida de cada sujeito.

Referências Bibliográficas

BAKHTIN, M. M. Para uma filosofia do ato responsável. [Tradução aos cuidados de Valdemir Miotello & Carlos Alberto Faraco]. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.

GERALDI, J.W. Sobre a questão do sujeito. In: PAULA, L. de; STAFUZZA, G. (Orgs.). Círculo de Bakhtin: teoria inclassificável. Volume 1. Série Bakhtin–Inclassificável. Campinas: Mercado de Letras, 2010.

PAULA, L. DE; SIANI, A. C. Uma análise bakhtiniana da necropolítica brasileira em tempos de pandemia. Revista da ABRALIN, v. 19, n. 3, p. 475-503, 17 dez. 2020.

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