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A “chegada” e a “partida”: a linguagem como potencializadora da vida

Tatiele Silva

Os vínculos entre os sujeitos são estabelecidos por meio das diferentes manifestações de linguagem. A linguagem e a língua propiciam que ocorram interações sociais essenciais à comunicação e organização social. No âmbito das relações sociais, a língua permite os sujeitos interagir, construir valorações e atribuir sentidos ao mundo e sobre as vivências e, desse ponto de vista, conforme os estudos do Círculo de Bakhtin, Medviédev, Volóchinov, o vínculo entre a língua e a linguagem com a sociedade é indissociável. Esse vínculo estreito implica se pensar que a língua e a linguagem são essenciais para o processo de interação social entre sujeitos.

Ao se levar em consideração os aspectos mencionados anteriormente, retoma-se o enunciado “A chegada” (2016) com a finalidade de refletir sobre a língua e a linguagem como potencializadoras da vida e das interações humanas. No enunciado fílmico em questão, uma linguista faz parte de uma equipe que tem como objetivo mediar a comunicação entre humanos e os visitantes extraterrestres, especificamente, com o intuito de descobrir o motivo pelo qual eles aterrissaram na terra.

Nesse percurso, podemos observar como a linguista Louise passa a conhecer a língua falada pelos visitantes e como a comunicação entre o ser humano e o extraterrestre vai ocorrendo à medida que se conhece a língua por meio do processo de interação no qual a comunicação é estabelecida. Embora esse percurso seja interessante e muito rico, abordamos uma questão particular ao final do filme, quando é revelado que esses visitantes oferecem como presente a sua língua para os habitantes da terra.

A caracterização apresentada no enunciado acerca da “língua como um presente”, pensada além do horizonte do enunciado fílmico, promove a reflexão de como a vida é potencializada pela língua e pela linguagem. As relações são possíveis e mediadas pela linguagem, nela diferentes tipos de enunciados emergem, ganham forma e se transformam em um ciclo mobilizador e potencializador da vida e das relações humanas. Esse “presente” pode ser pensado como a “chegada” e a “partida” de como atribuímos sentido ao mundo e a nossa existência por meio das relações humanas mediadas pela língua e pela linguagem. A partir desse ponto de vista, a língua e a linguagem podem ser compreendidas como um “presente” ao considerarmos que todo o processo de vivência social é perpassado por ambas. O processo de valorar e construir sentidos no mundo é mediado pela língua e pela linguagem e, portanto, elas podem ser compreendidas, sob uma dada perspectiva, como a base e também produto das vivências sociais.

Referências

A CHEGADA. Direção de Denis Villeneuve. USA: Paramount Pictures, 2016. (116 min.)

BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. 6a Edição. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia. Tradução de Sheila Camargo Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. Editora 34, 2019.

VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Ekaterina Vólkova Américo e Sheila Camargo Grillo. 2 ed. São Paulo: Editora 34, 2018 [1929].

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