O presente estudo, calcado na filosofia da linguagem do Círculo de Bakhtin, tem como intuito analisar algumas fake news relacionadas à COVID-19 que circularam no Brasil entre março (quando a OMS declarou estado de pandemia) até julho de 2020 (período em que o país atingiu mais de 90 mil mortes em decorrência da doença). Partimos do encadeamento das fake news com a problemática da desinformação, tendo em vista fatores como os algoritmos automatizados, as agências de checagem e o ambiente da pós-verdade. Discursivamente, compreendemos que se tratam de construções enunciativas singulares situadas no território da linguagem e que reverberam vozes de valorações divergentes, que se confrontam nas diversas esferas sociais. O confronto entre discursos - o científico e o negacionista - e a relação dialógica estabelecida entre eles, tendo em vista a construção de sentidos concorrentes, justifica o estudo. Exploramos o método dialético-dialógico, que se apoia no cotejamento de textos e contextos para compreender os enunciados. Os subsídios teóricos se pautam nas concepções bakhtinianas de linguagem, enunciado, vozes sociais, ideologia, signo ideológico e ato responsável e responsivo. As análises contribuem para a investigação das estratégias discursivas empregadas por aqueles que produzem as fake News. Assim, é possível entender como os sentidos são construídos a ponto de fazer com que um grande número de pessoas as tenham como verdade. Os resultados revelam as relações de sentido, as projeções axiológicas e a colisão de vozes que emergem desses enunciados.